10/07/2014

Sobre relacionamentos e filmes - "A vida imita o vídeo"


Relacionamentos para mim tem uma relação muito estreita com música, filmes, livros ou coisas que gosto. Isso obviamente tem um lado bom porque de alguma forma deixa evidente que tive afinidades e bons momentos com essas pessoas, mas tem também aquele lado super chato que é a música ou o filme ficar com a cara de alguém de quem já não quero mais lembrar as feições. 
Uma das primeiras marcas de que me lembro tem relação com as músicas do Kid Abelha, cravadas (é com "c" mesmo) em 1994 - só agora, após 20 anos começo a conseguir escutá-las, desde que não seja um álbum inteiro em sequência. Outras lembranças são ativadas pelos filmes do Steven Seagal - ainda bem que nem gostava muito mesmo dele, porque até hoje não consigo ver nenhum. E 007 também teve um espaço nos idos anos 1990. Algumas músicas que amava ficaram assombradas e perderam um pouco do sabor que tinham - delas "Vento Negro" está no top 10. Tive também a fase clipes musicais dos anos 80, mas esses eu assisto sem muita referência porque nunca foram específicos o bastante. As séries de TV ocupam um espaço bem grande e fica difícil assistir sem associar às antigas parcerias de expectativa - estão fora de questão para serem assistidas: Cold Case, Heroes, The Walking Dead, Fringe, House, Supernatural, Prison Break. (Embora com a notícia de que Heroes retornará em 2015 estou muito tentada a reconsiderar a decisão de manter o passado no lugar dele, afinal ter assistido centenas de episódios sem ver o desfecho é coisa pra herói mesmo, e ainda sou demasiadamente humana). 
Nada disso tem a ver com paixão reprimida ou recalque ou dor de cotovelo. É que acho um pouco difícil mesmo lidar com pessoas que não fazem mais parte de minha vida. Acho muito estranho ser tão íntima de alguém, compartilhar coisas tão mínimas e pequenas - mas significativas, e depois se tornar tão estranha a essa pessoa a ponto de nem saber qual o melhor cumprimento a dirigir a ela (oi, Bom dia, ou como vai?). 
O manual do politicamente correto em termos de rompimento é que as pessoas continuem amigas, vivendo o felizes para sempre separadas. Mas mesmo que não haja barraco ou chuva de difamações, o fato é que as cordialidades são muito mais a nível de aparência - algo do tipo "sua existência não me afeta". Não digo que, com o tempo a raiva, mágoa, decepção ou seja lá o que for que tenha restado após o rompimento não desapareçam, mas não sei se acredito em amizade entre ex-alguma coisa. A gente até pode conversar, pode rir de aventuras vividas juntos, lembrar de alguma desventura e beirar a nova velha briga, mas eu não compararia isso a um diálogo de reencontro de amigos do passado. 
Ainda bem que a indústria cultural anda sempre a todo vapor, então não preciso me preocupar muito. Sempre haverá novos discos, diferentes livros, outras séries, muitos novos filmes e remakes de coisas que já foram de um jeito e ganham retoques e ajustes. Eu gosto do diferente, mesmo que seja sobre o antigo e me encanto por quem sabe apontar para algo de uma maneira que eu ainda não tinha percebido. E ainda bem que existem muitas pessoas interessantes em meio a chatice do mesmo, do repetível, do igual. E ainda bem que os dias passam e que nós amadurecemos com eles, pois seria insuportável continuar adorando "Jeannie é um Gênio","Magnum","Punky, a levada da Breca", "Barrados no Baile" ou "Smalville" até hoje. Só "Malhação" insiste em continuar no ar depois de tanto tempo, e ninguém acha que isso faz sentido. Até o "Mocotó" emagreceu e a "Malhação" não desiste - nada pior do que isso: um passado travestido de presente que não tem mais futuro, mas insiste em permanecer. Que venha sempre o futuro, com tudo de improvável que ele possa trazer. Como diz a velha e gasta frase: "quem vive de passado é museu" - e olhe lá...

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