16/07/2014

"O acaso vai me proteger enquanto eu andar..." (Titãs)



Tudo começou com um post que nem era direcionado a mim, mas que por ser injuntivo me colocou contra a parede. Sentia que precisava dar uma resposta como se a pergunta tivesse sido direcionada exclusivamente a mim (é um pouco da pretensão que as redes sociais criam, como se o mundo virtual girasse em torno de nós). Eu poderia ter ignorado a pergunta e seguido a leitura de posts de flores e gatinhos que me deixariam distraída pelo tempo que eu precisava gastar sem enlouquecer esperando conexão de voo. Eu também poderia ter nunca saído de casa para estudar a noite e fazer faculdade e estaria vivendo "feliz" minha ignorância de tantas questões às quais não tenho (e talvez nunca venha a ter) respostas, mas eu saí e me senti o máximo lá do alto dos meus 17 anos circulando nos corredores da universidade (lembro de toda a maturidade que eu tinha: escrevi com canetas coloridas na minha agenda: "agora sou universitária!". Eu era tão madura que tentei um vestibular para jornalismo, mas comecei fazendo ciências, pensava em mudar pra psicologia e depois de um ano fui convencida de que meu lugar era em Letras - não sem antes minha mãe ameaçar me "deserdar" porque eu queria fazer teatro). Mas eu saí de casa e, na marra, fui amadurecendo (um gerúndio que ainda me acompanha...) e um pouco na academia e outro tanto na vida fui me colocando diante dos múltiplos e variados conhecimentos e desconhecimentos. 
Então 21 anos depois estava eu sentada com todo aquele ânimo que só quem já se encheu o saco de viajar de avião entende, "passeando" sem compromisso pelo feed do facebook quando surgiu o post "Para reflexão: A coincidência existe? E o acaso?". Confesso que não dei importância e segui adiante vendo gatinhos fofos e paisagens bonitas com frases de gente legal, mas era tarde demais... meu cérebro já havia captado a pergunta que exigia uma resposta. Queria uma do tipo simples - como são as que damos às perguntas como "com ou sem colarinho?", "açúcar ou adoçante?", "chocolate ou chocolate?". Aí pirei. Primeiro porque não achei uma resposta com uma ou duas palavras, aí tentei sair pela tangente dizendo que "eu quase acredito na lei da atração". A pessoa que postou poderia apenas ter dando um like e todos seriam felizes para sempre até a próxima pergunta que me tirasse o sossego, mas ele não fez isso. Preferiu o confronto: "Então, mas eu acredito que o acaso não tem relação com essa lei..." (putz grila! Voltei à estaca zero!). E lá fui eu com filosofia de boteco sem o boteco (e sem a cerveja, of course) "De fato não tem..., mas ao que muitos chamam acaso eu digo que é a lei da atração funcionando...". Sabe cachorro correndo atrás do rabo? Minha resposta foi tipo isso, mas meu interlocutor angustiado não se deu por satisfeito "Oh sim, verdade, mas essa lei restringe essa problemática... rs". Bom, já deu pra ver que o cachorro poderia infinitamente correr atrás de seu rabo e chegar a lugar algum... então tentei ser específica (ah! que falta faz um boteco pra filosofar essas coisas!) "Mas para dar meu pitaco específico então eu não acredito no acaso e nem acredito em destino. Acredito que existem muitos possíveis futuros concorrendo a todo tempo, e as pequenas ações que executamos vão definindo o futuro provável. Alie-se a isso a lei da atração... E eis o tal do vulgo acaso e destino..." Fim da história? Que nada! Meu interlocutor (que acho que também não estava num bar) completou: "E quando a lei da atração não é aplicável ao caso, resta apenas a junção de fatores que determinaram a situação em concreto, surpreendente (positiva ou negativamente)." A-há! Parecia que estávamos chegando a um consenso... mas eu acho que sou do tipo que quer ter a palavra final (alguns chamam isso de teimosia, eu acho que é apenas fazer valer a minha opinião...) e disse: "Sim, mas creio que são fatores que de alguma forma fazem parte de seu espectro, não são totalmente externos ou alheios. Bem ou mal você fez algo que desencadeou os eventos..." (onde está a cerveja mesmo? e o boteco?).
Meu estimado interlocutor, tão angustiado quanto eu, foi certeiro: "E é aí que entra o ponto "X". Juro que não fiz de propósito. Eu estava lá, num hábito adquirido recentemente. Jamais passou pela minha cabeça que tal fato aconteceria. Pensei em não ir para um determinado lugar, estava cansado, mas fui. E pronto! O impossível aconteceu..." Impossível? Ah não... mais uma porta aberta pra filosofia de boteco (como bem disse o Chorão "Mas pra quem tem pensamento forte, O impossível é só questão de opinião. E disso os loucos sabem, só os loucos sabem"). "Mas aconteceu porque era possível e você estava empenhado nisso, ainda que inconscientemente." "Não, eu não estava. Não tinha como eu supor que tal fato aconteceria. Meu propósito era outro". Lembra do cachorro e do rabo? Ah... filosofia de boteco tem esse nome porque precisa do boteco... Enfim fui chamada para o embarque e precisava ainda fechar o assunto (como se fosse possível), aí tasquei um chavão "há mais mistérios entre o céu e a terra do que pressupõe nossa vã filosofia" (poxa! Você já foi mais original, Geane!). 
O voo foi super rápido, chegamos bem antes do previsto e eu estava bem animada com essa positividade toda dos eventos. Até que tudo deu errado. Ou não. Não sei. Foi acaso? Obra do destino? Conspiração do universo? Não sei. Só sei que por uma conjunção de fatores fui a última a conseguir um táxi. O aeroporto estava quase vazio e eu lá esperando, quase xingando os deuses do Olimpo... Mas chegou um homem pedindo algo e eu catei uns snacks e uma caixinha de suco que acabaram sobrando na viagem e dei a ele que retribuiu com um "Deus te abençoe muito, muito, muito". Na hora a raiva passou e logo apareceu um táxi. 
Já em casa, tentando pegar no sono e fazendo aquela retrospectiva do dia me veio a pergunta filosófica de boteco à cabeça. Teria sido acaso? Ou aquela pessoa teria tanta fome e desejou tanto a comida que o " universo" conspirou para que alguém que tivesse um alimento à mão estivesse naquele lugar, àquela hora? Talvez eu tenha esperado mais do que todos daquele voo para chegar em casa por algum motivo a mais que o acaso, ou não. Contudo, é mais poética a ideia de uma sinfonia/sintonia do universo... Por isso gosto tanto dela... Mas ainda acho que preciso do boteco para dar uma resposta mais "elaborada", afinal não é tão fácil assim responder essa questão com os dois pés no chão, não é mesmo?

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