11/04/2011

Abacates e bergamotas

Dia desses fui à feira - coisa que vivo prometendo fazer com mais frequencia, mas que nunca de fato cumpro. Pois bem, depois de deixar as crianças na escola e enfrentar um terrível trânsito matinal em Porto Velho, vi as barracas de verduras e frutas e pensei - por que não?
Comprei algumas coisas, mas o mais interessante não foram as "aquisições". Foi a oportunidade da lembrança. Comprei abacates e outra fruta que nunca sei exatamente como chamar por essas bandas, mas que para mim sempre será bergamota.
Só de olhar para aqueles abacates na banca, eu viajei mais de trinta anos no tempo. Na casa em que morávamos havia dois imensos abacateiros e eu pude ouvir seus galhos encostando nas telhas e as folhas fazendo assombrações na parede meio iluminada da casa. Lembrei-me das tantas vezes que brincamos com os caroços, eu e minha irmãzinha, ora fatiando-os e fazendo comidinha, ora usando-os como bolas de bocha.
Ainda absorta nesses pensamentos encontrei as bergamotas e com elas sentei-me ao sol da memória para lagartear. Ainda na casinha simples de minha infância, corri por debaixo das tantas árvores frutíferas de que meu pai tanto se orgulhava para encontrar meu irmão mais velho que chegava do quartel. Eu sempre fazia a mesma pergunta: - "Trouxe pirulito?". E ele sempre me dava a mesma resposta: - "Pirulito não, mas posso te dar um beijo".
Ainda sorrindo com meus abacates e bergamotas na mão, vim para casa lembrando de minha célebre frase: - "Beijo não adianta, o que adianta é pirulito!".
Passados tantos anos e distante tantos quilômetros, tem dia que tudo que a gente queria era ganhar um beijo do irmão mais velho, da irmãzinha mais nova, de todos os outros do meio, ou do papai e mamãe. Tem dia que o pirulito é amargo, mas que a lembrança de dias doces ajuda a aliviar. Tem dia que simples abacates e bergamotas na feira preenchem aquele espação que a saudade ocupa. E a gente segue em frente, vivendo dias comuns, para daqui há outros trinta anos lembrar com saudosismo e com a certeza de que, sim, a gente era feliz.