25/09/2014

"Coisas que eu sei"


Vivemos buscando coisas grandes, que nem cabem em nossas mãos. E, em muitas das vezes, não damos a devida importância aos pequenos momentos que fazem nossos dias mais encantados. Não são grandes eventos, na sua totalidade, que restarão em nossas memórias; são coisas pequenas, como gestos, cheiros, texturas, chistes. Sabe aquele sorriso que brotou quando você não esperava? Aquele abraço dado de surpresa? Aquele perfume maravilhoso que você sentiu em alguém que simplesmente passou por você? São coisas assim que ficam. São coisas assim que nos dão saudade. Por mais importantes que sejam os grandes feitos de nossas vidas, são aqueles pormenores que nos tornam dignos de existir e que fazem com que as coisas que seriam passageiras se eternizem. Tenho saudade de muita coisa pequena, de muito pormenor, de muito detalhezinho, de muito fragmento... porque não sou inteira, mas mosaico em (re)construção. E volta e meia essas lembranças evocadas retornam de um outro jeito, com uma outra cara, com uma nova cor. E eu as colo novamente, porque ressinignificadas estão. E as deixo ficar, e as contemplo e brinco e rio com elas, como se experimentasse de novo e outra vez aquelas mesmas sensações de outros tempos atrás...


12/09/2014

Eu, inquilina de mim



Mora no sótão uma de cabelos branqueando
e no porão a garotinha.
Em algum lugar obtuso
a mau humorada, resmungona.
Enrolada em teia de aranha
para meu próprio pavor
aquela que é meio estranha
pitadas, poções e amor.
A que gosta de abraçar
beija de olhos fechados
muito tímida para dançar.
A que só bebe água,
a viciada em coca-cola,
a que adora caipirinha.
Tem mãe, filha, irmã, tia, sobrinha, madrinha.
Batom carmim,
cara lavada,
cabelo assim-assim...
Loira, ruiva, morena.
(os óculos não saem de mim)
Um dia MPB, outro rock
porque até o papa é pop.
E quando os pensamentos falam demais?
Beethoven, Mozart, Chopin
E quando as emoções falam demais?
Um bar, café, um chopinho.
E quando parece que não vai dar...
Abraço, sossego e carinho.
Claustrofóbica, já quero sair
Tanto faz pra onde for.
E logo quero voltar
pros braços de meu amor
(aquele que a gente inventa)
Que age feito criança
rolando na cama agarrado
Brincando de luta
"Tá amarrado".
Até que volta a vontade
de largar tudo, correr
mergulhar em um pote de sorvete
beber até adormecer.
Salto alto ou sapatilha?
Dizem que tênis é démodé.
Pés descalços para dirigir
(nunca haverá finesse nas havaianas em mim)
Não sou global.
Nunca vou ser.
Já andei um bocadinho
por aqui e por ali
Eu ou elas, como saber?
Mulheres são complicadas
Quem convive, sei bem...
Arrumar uma casa
uma alma cheia delas
uma vida emaranhada
não sei como é que se faz.
Tantos gostos e desgostos
paixões, amores, alvoroços
sossegos, complascências, solidões.
Eu vejo Capitu, Sofia, Macabéa.
Molly Bloom, Tristessa, Emma Bovary
(até Hermione já encontrei por aqui!)
Úrsula Iguarán, Alice, Dorothy
(e os sapatos vermelhos!)
Julieta Capuleto
No fundo, do fundo, do fundo...
Talvez um pouco de Luísa
Uma pitada de Helena e Isaura,
Iracema, Lucíola e Aurélia.
Sem esquecer da face Rita Baiana...
Tantas e tantas, essas e outras, aqui e além
principais, secundárias, figurantes
mulheres que habitam em mim
Que vivem, revivem, reviram, fervilham
Somos eu
Sou tantas
Até o dia em que serei Annabel Lee
e ninguém mais...