10/05/2014

Dia das mães?


Hoje fiquei muito triste ao presenciar uma cena desagradável entra mãe e filho numa agência da caixa econômica. A senhora havia esquecido de fechar o vidro do carro e o filho dela se pôs aos berros, xingando-a por isso. Ela ficou toda sem graça e pedia que ele se acalmasse, mas ele entrou no carro e disse que era para eles irem embora. Ela falou que precisava resolver o que tinha ido resolver e que não iria embora assim - então ele simplesmente a deixou lá.
Quando saí da agência ela estava do lado de fora, escorada no corrimão, o olhar estava distante. Acho que ela deveria estar pensando em todas as dificuldades que passou para criar aquele filho, em todas as noites e dias que teve que batalhar para criá-lo, ou quem sabe estava lembrando dos muitos beijos que ele havia dado quando garoto e dos cartõezinhos em formato de coração que ele levava para casa quando voltava da escola.
Tive vontade de levá-la para casa - acho que se tivesse um carro teria feito isso... e me senti um pouco culpada por não poder fazer nada. E fiquei pensando... tudo bem que dia das mães é só uma data comercial, mas escolher justamente essa data para magoar um coração que parece já ter sido tão judiado pela vida?
Quantas vezes somos maus filh@s, pais, espos@s, namorad@s, amig@s, irmã@s sem precisar ser?
Ainda ontem eu vi um questionamento em algum lugar na internet mais ou menos assim "se amamos tanto nossas mães porque as tratamos tão mal?". Fiquei pensando muito nisso.
Lemos inúmeras postagens ao longo do ano em que as pessoas dizem algo como "se você concorda que mãe deveria ser eterna, compartilhe", ""se você tem a melhor mãe do mundo, compartilhe", "se sua mãe é linda compartilhe", e por aí vai.
Amor de filho virou propaganda para ser estampada no facebook, porque todo filho tem que dar pinta de bom filho para parecer uma pessoa legal.
Assim como somos todos bons cidadãos, honestos, corretos, íntegros, educados e religiosos. Que droga! Se somos tão bons como a internet faz parecer porque a vida real anda cada dia mais amarga?
"All we need is love", mas amor é mais do que palavras...

06/05/2014

"Estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem." / “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

Na hora de tirar selfie com bananas pra sair bonito na foto e no face, somos todos iguais. Mas a igualdade acaba rapidinho quando se trata de lidar com aqueles que são minimamente diferentes de nós.
Não gosto desse discurso de igualdade, porque a parte óbvia da igualdade biológica não entra em pauta; a parte da igualdade de oportunidades e direitos, menos ainda. A maioria de nossa sociedade burguesa tem chilique só em ouvir algo como "comunismo" ou "socialismo".
Igualdade só para estampar camiseta. Assim como Che Guevara. Lindo, vende bem, dá lucros. Só.
Fico horrorizada a cada dia que leio as notícias das barbáries de espancamento, linchamento, assassinatos cometidos por "gente da sociedade" - autorizados por uma mídia que incentiva a lei do talião.
Igualdade com essa gente? nem pensar! Quero muito ser cada vez mais diferente!!! Não consigo, e não quero, entender como alguém que mata um suposto contraventor consegue se sentir "limpo".
Sangue nas mãos é sangue. Assassinato é assassinato e violência independe de motivos. Tenho medo do rumo que as coisas estão tomando. O mundo está se tornando cada dia mais irracional.
Será a cegueira de que Saramago tentou nos alertar?


("Estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem." / “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.)